
"Menino Deus, quando tua luz se acende..."
Um bairro.
Cantado por Caetano Veloso.
E que permanece na minha memória como um lugar mágico, gostoso de morar, namorar, viver, trabalhar.
Duas avenidas cortam o bairro.
A mais antiga, Getúlio Vargas, é também a mais bonita. Arborizada, tem bares, botecos, a antiga sede da Editora Globo, muitos prédios de apartamentos.
A avenida mais nova, Érico Veríssimo, não tem tanto charme, mas é onde eu morei durante muito tempo.
Minha casa ficava bem perto do Jornal Zero Hora e mais perto ainda de um bar chamado Porta Larga. É onde se encontravam os jornalistas que trabalhavam tanto na Zero Hora, na Rádio Gaúcha e na RBSTV.
Eu não tinha carro. E, em início de carreira, apresentava o Bom Dia Rio Grande. Tinha que pegar o ônibus que passava cedo, cinco da manhã, na subida para o Morro Santa Teresa, onde fica a TV.
O ônibus passava sempre cheio. Eu era um dos poucos civis. Na subida para o morro há três quartéis do Exército.
O motorista era uma figura. Ficou meu amigo. E me ajudava a enfrentar o frio e a chuva do inverno.
Eu ficava debaixo da marquise do meu prédio de olho no ônibus que vinha do outro lado da avenida. Quando chegava ao ponto, o motorista ficava esperando pacientemente que eu atravessasse a avenida e evitasse congelar com o vento que corta Porto Alegre no inverno.
Tudo fica perto do Menino Deus.
Ia a pé para os bares, para os jogos no Estádio Olímpico, pegava facilmente um ônibus para o Estádio Beira-Rio ver meu Internacional, estava próximo do Parque da Redenção, de cinemas, dos amigos.
Dias fantásticos vivi naquele bairro.
Dias melhores aprendi a reconhecer ao longo do caminho.
Mas sempre fica um pouco da gente nos lugares por onde passamos.
E sempre fica, na gente, um pouco dos lugares que vivemos.
"Menino Deus, quando tua luz se acende
A minha voz comporá tua lenda
E por um momento haverá mais futuro do que jamais houve
Mas ouve a nossa harmonia, a eletricidade ligada no dia
Em que brilharias por sobre a cidade
Menino Deus, quando a flor do teu sexo
Abrir as pétalas para o universo
E então, por um lapso, se encontrar no anexo
Ligando os breus, dando sentido aos mundos
E aos corações sentimentos profundos
De terna alegria no dia
Do menino Deus."
(Caetano Veloso)