13.3.06

Quase-Fui

Inverno no extremo sul. Chovia. E o vento minuano assoviando a noite toda. Na fazenda em que eu morava, tínhamos todo o tipo de animais. Coelhos. Porquinhos da Índia. Gansos, patos, marrecos, galinhas de raça nobre. E cada família podia ter um cachorro de pequeno porte. A proteção das crianças era prioridade na fazenda. Pois numa noite de inverno Anapurna resolveu dar a luz. Menino ainda, ouvi aquele lamento todo de quem sofre parindo e não entendi nada. Era uma cadelinha pequinês e o primeiro filhotinho recém-nascido mais parecia um ratinho. Pois foi como um ratinho que eu tratei o recém-nascido. Não entendi porque Anapurna lambia com tanto carinho aquele bicho nojento. Pois peguei o filhote e joguei no quintal. Voltei a dormir. Meia hora depois, o mesmo lamento e lá estava Anapurna repetindo a cena de cuidar do filhote. Foi aí que me dei conta de que alguma coisa estava errada. Acordei meu pai e rindo, ele disse que eu ela estava dando cria. Que eu voltasse a dormir que os animais sabem cuidar dos filhotes. E o remorso? Contei o que havia feito com o primeiro filhote e corri para o quintal. Pois o animalzinho estava vivo, ainda. Peguei, sequei e deixei embrulhadinho num pano seco perto do fogão a lenha que aquecia a cozinha. Foram quatro filhotes. E o único que ficou lá em casa foi ele mesmo. E ganhou o nome dado por minha mãe. Quase-Fui.